domingo, 16 de outubro de 2011

Africa Music, Blood Diamond Soundtrack .

Ana Paula Tavares

Ana Paula Ribeiro Tavares (Lubango, província da Huíla, Angola, 30 de Outubro de 1952) é poetisa. Iniciou o seu curso de história na Faculdade de Letras do Lubango (hoje ISCED- Instituto Superior de Ciências da Educação - Lubango) terminando-o em Lisboa. Em 1996 concluiu o Mestrado em Literaturas Africanas. Actualmente vive em Portugal, faz o Doutoramento em literatura e lecciona na Universidade Católica de Lisboa. Ana Paula Tavares é a única poetisa contemporânea do período pós-independência angolana (11 de Novembro de 1975). Sempre trabalhou na área da cultura, museologia, arqueologia e etnologia, património, animação cultural e ensino. Participou em simpósios, congressos, comissões de estudo e elaboração de inúmeros projectos da área cultural. Foi Delegada da Cultura no Kwanza Norte, técnica do Centro Nacional de Documentação e Investigação Histórica (hoje Arquivo Histórico Nacional) do Instituto do Património Cultural. Foi membro do júri do Prémio Nacional de Literatura de Angola nos anos de 1988 a 1990 e responsável pelo Gabinete de Investigação do Centro Nacional de Documentação e Investigação Histórica em Luanda, de 1983 a 1985. É também membro de diversas organizações culturais como o Comité Angolano do Conselho Internacional de Museus (ICOM), Comité Angolano do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (ICOMOS), da Comissão Angolana para a UNESCO. Tanto a prosa como a poesia de Ana Paula Tavares estão presentes em várias antologias em Portugal, no Brasil, em França, na Alemanha, em Espanha e na Suécia.
Obras:
Ritos de Passagem (poesia).
Luanda: UEA, 1985 [2 ed. Lisboa: Caminho, 2007].
A primeira edição de Ritos de Passagem ocorreu em Angola, em 1985. A reedição de seu primeiro livro de sai agora pela editora Caminho (Portugal), esta versão vem enriquecida por ilustrações de Luandino Vieira: um escritor que lê a poesia de Paula Tavares através de manchas de café e tinta-da-china.
1998 Sangue da Buganvília: crônicas (prosa). Centro Cultural Português Praia-Mindelo, 1998. As pouco mais de setenta crônicas que compõem o volume O sangue da buganvília, editado em 1998 pelo Centro Cultural Português de Cabo Verde, as crônicas foram em princípio escritas para serem lidas em um programa da Rádio de Difusão Portuguesa, com transmissão para os países africanos de língua portuguesa.
O Lago da Lua (poesia). Lisboa: Caminho, 1999.
O Lago da Lua, é de acordo com a crítica, um dos mais belos livros publicados em língua portuguesa, no ano de 1999. O texto pode ser descrito como a associação de uma serena, quente, sensível natureza africana, à mais vibrante, dolorosa, misteriosa sensibilidade feminina. Lá estão Angola e Cabo Verde, o Sul da África, a relação da água e do sangue menstrual, do sofrimento ao prazer, do corpo ao corpo, a visita do amor, a velhice, a memória. Tudo isto numa cadência delicada e forte ao mesmo tempo, em metáforas ricas, que conotam os astros e os sentidos e se espraiam por textos hiperintimistas ou pela descrição carinhosa, sendo agreste, do mundo primitivo dos medos e dos feitiços, dos gados transumantes, das horas verdes da seiva. A evocação das máscaras, das escarificações, das fogueiras, dos colares dos dias de luto está num pólo, não muito longe das citações da Bíblia; no outro pólo está o Japão de Mishima e Kawabata; por toda a parte, disseminada, está também a cultura europeia de Paula Tavares. E tudo isto por vezes se mistura e faz a universalidade, a candente harmonia e a originalidade da poesia de Ana Paula Tavares.
Dizes-me Coisas Amargas Como os Frutos (poesia). Lisboa: Caminho, 2001.
Em "Dizes-me coisas amargas como os frutos", de 2001, a escrita poética deixa visível a intenção de povoar o texto com dados concretos da realidade que, pousa no texto, muitas vezes, com seus sentidos expandidos ou apenas sugere relações que demandam um olhar mais cuidadoso sobre os costumes da terra angolana. Talvez seja esse transbordar de sensações, de toques suaves, que apreende o leitor, mesmo aquele que desconhece os dados concretos que habitam os versos de Paula Tavares. Encanta o leitor a exploração de recursos próprios da escrita poética, o trabalho cuidadoso com a plasticidade das cenas, das elaborações sensuais que organizam os poemas, comedidos, sintéticos, avessos ao excesso.
A Cabeça de Salomé (prosa). Lisboa: Caminho, 2004.
"Deslizar os dedos por manuscritos antigos"; é o que fazem as vozes enunciadoras das crônicas de A Cabeça de Salomé, cujo corpo poético apreende, por entre o fluir de sons, tradições, cheiros e sabores, a arquitetura insondável dos mistérios da vida, da terra, da magia das letras do mundo angolano de Paula Tavares. Palavras borbulham, transgressoras, no avesso do mito bíblico subvertido: é a cabeça de Salomé a ofertada, mas num cesto cokwe… Tecido por intenso erotismo da linguagem, novos olhares femininos se impõem, seja pela saudade amorosa do velho Kinaxixe, seja pela cartografia dos sonhos de Felícia, seja ainda pela crítica à demolição do palácio de Ana Joaquina. Este livro trata, em última instância, da sedução: da mulher, da terra, da palavra. Merece ser lido, em silêncio, como num ritual de amanhecer…
Os olhos do homem que chorava no rio (romance), em co-autoria com Manuel Jorge Marmelo. Lisboa: Caminho, 2005.
Um romance que é mais uma prosa poética, quase sem enredo, que trata de um tipógrafo brasileiro que, à beira do rio Douro, faz um devaneio em que procura recuperar a vida perdida e descobre que ainda pode amar. Escrito a quatro mãos, pela angolana Ana Paula Tavares e pelo portuense Manuel Jorge Marmelo, Os olhos do homem que chorava no rio mais parece feito por uma só alma, embora tenha tido o seu tema sugerido por um terceiro escritor, o brasileiro Paulinho Assunção. Assim, a exemplo de um antigo romance de Adonias Filho (1915-1990), Luanda Beira Bahia, de 1971, refaz-se uma triangulação nas literaturas de expressão portuguesa, desta vez, reunindo Huíla, Porto e Belo Horizonte. Segundo Paulinho Assunção (1971), amigo dos autores, este é um livro-música-de-câmara. E o define muito bem, pois é mais uma fantasia onírica. Afinal, de sua leitura pode-se ouvir sons mágicos, o som que vem da correnteza do rio, do fluxo de pensamento. Como não se sabe quem escreveu o quê, o que se pode dizer é que os autores produziram um romance que é também uma prova prática das idéias do pensador francês Gaston Bachelard (1884-1962), autor A Água e os Sonhos: ensaio sobre a imaginação da matéria (São Paulo, Martins Fontes, 1989, tradução de Antônio de Pádua Danesi), para quem "contemplar a água é escoar-se, dissolver-se, é morrer". Até porque não há quem, ao se sentar perto de um riacho, não caia em devaneio profundo nem deixe de rever a sua ventura.
Manual Para Amantes Desesperados (poesia). Lisboa: Caminho, 2007.
Segundo um dito umbundu, «Um cesto faz-se de muitos fios». Também uma teia. Teia é o poema fabricado pelos fios das palavras que lhe tecem, minuciosos, o corpo. Assim é a poesia de Ana Paula Tavares, voz depurada da Literatura Africana de Expressão Portuguesa. Manual para Amantes Desesperados, livro editado em 2007 e Ritos de Passagem, o título inaugural da autora, reeditado no ano passado, são duas urdiduras poéticas que motivam este nosso texto.
Em Manual para Amantes Desesperados, a teia que a poeta tece é feita de fogo e sede, de areia e vento, de sangue e febre, de sons e de segredos. Tecedeira exímia, a poeta mostra que é oriunda de um lugar onde "há pedras antigas /gastas das mãos das mulheres /que inventam a farinha de levedar /os dias".

Poemas:
Mukai;
Canto de nascimento;
Não conheço nada do país do meu amado;
Vieram muitos…;
Tratem-me com a massa;
November without water;
Abóbora menina;
O mirangolo;
Rapariga;
Amargos como os frutos;
Entre os lagos;
História de amor da princesa Ozoro e do húngaro Ladislau Magyar;
A manga;
A mãe e a irmã;
O cercado;

Bibliografia:
Ritos de Passagem, 1985
O Lago da Lua, 1999
O Sangue da Buganvilia 1998
Dizes-me coisas amargas como os frutos, 2001
Ex- votos, 2003
A cabeça de Salomé, 2004
Os olhos do homem que chorava no rio, 2005 (co- autor: Manuel Jorge Marmelo)
Manual para amantes desesperados, 2007
Influências:
A escrita de Ana Paula Tavares sofreu influência de autores brasileiros como Manuel Bandeira, Jorge Amado,Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Mello Neto, cujas obras chegavam a Angola por meio de viajantes. Segundo a poeta, não só a literatura, mas a música brasileira também influenciou sua escrita, bossa nova que estava sempre muito presente em seus momentos de criação. De acordo com Ana Paula, "depois da poesia brasileira, a música brasileira teve um papel muitíssimo importante na divulgação de seus textos. Começava-se por ouvir a música e então partia-se para outras coisas."

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ana_Paula_Ribeiro_Tavares

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Wislawa Szymborska - poetisa polonesa




Wisława Szymborska (Kórnik, 2 de Julho de 1923) é uma escritora polonesa.
Destacou-se como poetisa com uma obra que tem como tema as vicissitudes da Polônia moderna. Emprega uma linguagem simples e coloquial, herança do realismo social que dominou a Europa oriental, mas sua modernidade se revela no tom irônico e na complexidade formal de muitas de suas poesias.
Recebeu o Nobel de Literatura de 1996.
Obras:


Wołanie do Yeti 1957 (Convocação para Yeti)
Wszelki wypadek 1972 (Poderia ser)
Koniec i poczatek 1995 (O fim e o princípio)

Os filhos da epoca - Wislawa Szymborska
Tradução: Ana Cristina Cesar


Somos os filhos da época,
e a época é política.
Todas as coisas - minhas, tuas, nossas,
coisas de cada dia, de cada noite
são coisas políticas.
Queiras ou não queiras,
teus genes têm um passado político,
tua pele, um matiz político,
teus olhos, um brilho político.
O que dizes tem ressonância,
o que calas tem peso
de uma forma ou outra - político.
Mesmo caminhando contra o vento
dos passos políticos
sobre solo político.
Poemas apolíticos também são políticos,
e lá em cima a lua já nao dá luar.
Ser ou não ser: eis a questão.
Oh, querida que questão mal parida.
A questão política.
Não precisas nem ser gente
para teres importância política.
Basta ser petróleo, ração,
qualquer derivado, ou até
uma mesa de conferência cuja forma
vem sendo discutida meses a fio.
Enquanto isso, os homens se matam,
os animais são massacrados,
as casas queimadas,
os campos se tornam agrestes
como nas épocas passadas
e menos políticas.

Fontes:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Wis%C5%82awa_Szymborska
http://www.lumiarte.com/luardeoutono/wislawa.html